A PANDEMIA: PANORAMA DE UM ANO

A pandemia do novo coronavírus e seu alcance no território brasileiro completou um ano nesses dias. O primeiro caso, de um brasileiro que havia estado na Itália, foi notificado no final de fevereiro de 2020. O que aconteceu nesse período de tempo? Quais ações foram realizadas? O que sabemos até agora? Que experiências podemos tirar dessa pandemia?

            Sabe-se que os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus se deram na China, na cidade Wuhan, em dezembro de 2019. Inclusive, a origem do nome “covid-19 está na junção de três palavras em inglês: “corona virus disease” (doença do coronavírus) e “19” se refere ao ano de sua descoberta (2019). Inicialmente, não se acreditava que houvesse a transmissão entre pessoas, mas isso se confirmou ainda em dezembro; porém, não se sabe por quê, o governo chinês não alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o potencial de contaminação do novo vírus e da provável pandemia que se seguiria, caso não fosse tomada nenhuma medida para deter sua propagação.

            E foi assim que, em janeiro do ano passado, milhões de chineses espalhados por todo o mundo voltaram à sua terra natal para comemoração do ano novo lunar – tradição muito observada por eles. O problema é que, àquela altura, já havia casos suficientes de contaminados para que a festividade fosse cancelada, evitando uma aglomeração imensa, inclusive na cidade apontada como possível origem da pandemia, Wuhan – lembremos que a China tem mais de um bilhão e quatrocentos milhões de habitantes. Assim, esses milhões de chineses, tão logo terminaram as festividades, retornaram aos locais onde residiam naquele momento, em várias partes do mundo, o que incluía a região norte da Itália, primeiro epicentro (região mais atingida) da pandemia fora da China. Vale a pena pesquisar por que há tantos chineses naquela região italiana. Milhares de vidas foram ceifadas pelo vírus chinês.

            Quando foi declarada a pandemia pela OMS, em 11 de março de 2020, as medidas recomendadas foram tomadas com o que se conhecia até então: uso de máscaras, distanciamento social, isolamento e quarentena de pessoas suspeitas de infecção e até lockdown (fechamento total). É bom ressaltar o hiato temporal entre os primeiros casos de chineses infectados (dezembro de 2019) e a declaração de pandemia pelo órgão de saúde da Organização das Nações Unidas (março de 2020). Não bastasse o aparente descaso inicial para com um perigo premente por parte da OMS, outras medidas e decisões no transcorrer da condução da pandemia deixaram a desejar. Isso veremos mais adiante.

            No início do mês de fevereiro do ano passado, governo brasileiro, se antecipando à OMS, declarou estado de emergência, uma preparação para tomada de medidas que requeriam menos tempo de ação. A medida foi tida como precipitada pela grande mídia, que não viu nenhum perigo de uma pandemia à vista e tampouco criticou a realização de uma festa tão popular como o carnaval, com aglomerações por todo o país. A festa popular foi um cenário perfeito para propagação do vírus pelo país, a despeito de toda a garantia dos prefeitos e governadores de que o carnaval poderia ocorrer normalmente.

            Voltando ao mês de março, na semana subsequente à oficialização da pandemia pela OMS, governo federal, governos estaduais e governos municipais trataram de tomar medidas para tentar conter a propagação viral. As informações ainda eram incipientes acerca da ação do novo coronavírus, dado o pouco tempo do início de sua disseminação. Com base no que aconteceu na região norte italiana, informações e hipóteses foram formuladas: o vírus se propagaria com maior facilidade em regiões frias, seria mais letal em idosos e pacientes com comorbidades (doenças crônicas). Com base nisso, esperava-se que o Brasil não fosse tão afetado, dado seu clima tropical, bastante quente na maior parte do país, à época do começo da pandemia. Ledo engano.

            As autoridades federais, estaduais e municipais justificaram as medidas restritivas (quarentena e lockdown) como ações para achatar a curva de casos de contaminações e mortes que começaram a crescer desde o mês de março. Outra justificativa foi a da necessidade de preparação do Sistema Único de Saúde (SUS) para receber os infectados, criando leitos hospitalares e unidades de terapia intensiva (UTI) para tal fim, bem como construção de hospitais de campanha (temporários) para atender à demanda, que seria imensa. Não custa lembrar que um estudo foi publicado pelo Imperial College (instituição inglesa respeitável), no fim de março, que previa mais de um milhão e cem mil mortos por COVID-19 até o mês de agosto, caso nenhuma medida fosse tomada só no Brasil.

            De posse das informações até então, sabendo da realidade do SUS e com base em estudos que previam milhões de mortes, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recomendou a todos que só deveriam procurar atendimento médico quando começassem a sentir falta de ar. A preocupação que ele demonstrava era com o possível colapso do SUS por todo o país. Infelizmente, não é de hoje que nosso sistema de saúde está doente – com o perdão do trocadilho –, não dispondo de leitos de UTIs suficientes para atendimento em várias partes do país há anos.

            Ainda no mês de março, o governo federal demonstrou preocupação com as medidas restritivas, que repercutiriam diretamente na economia do país, que estava dando sinais de crescimento desde 2019. Porém, a mensagem transmitida pela grande imprensa foi a de que o governo não se preocuparia com as vidas que se perderiam durante a pandemia. Aqui vale uma análise mais isenta de paixões políticas possível. A demonstração de preocupação com o fechamento de estabelecimentos comerciais e demais setores da economia tem fundamento lógico. Sem pessoas trabalhando, não há produção e um dos efeitos imediatos é a inflação de preços dos produtos que começariam a faltar em virtude da parada de sua fabricação. Desabastecimento e inflação impactam imediatamente as classes mais humildes da população.

            Foi aí que o governo federal lançou programas para tentar amenizar os efeitos das medidas restritivas na economia, no mês de abril. Dentre esses programas, podemos citar o auxílio emergencial (com pagamento de parcelas de R$ 600,00 a autônomos e desempregados) e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego (em que o governo federal repassava parte do salário para que a empresa não demitisse o empregado), que ajudaram milhões de brasileiros a terem alguma renda durante o período em que não poderiam sair para trabalhar. Créditos emergenciais foram criados para possibilitar o custeio das medidas econômicas adotadas. Paralelo a isso, insumos e recursos foram enviados aos estados e municípios para ajudar no combate à pandemia.

            Quando começou a haver discordâncias sobre a condução da pandemia entre o presidente e os governadores e prefeitos, estes foram ao Supremo Tribunal Federal (STF), ainda em abril, que decidiu que competiria ao governo federal basicamente o papel de coordenar os repasses de verbas a estados e municípios, já que as medidas restritivas puderam, desde então, ser tomadas por esses entes públicos e não pelo governo federal. Um exemplo foi o decreto do presidente, que autorizava a abertura de vários serviços tidos como essenciais pela decisão, mas que foi barrado pelo Supremo, que reafirmou a proeminência das decisões estaduais e municipais com relação às citadas medidas.

            E foi assim que assistimos, Brasil afora, a uma série de cenas grotescas: pessoas sendo presas em praças e praias, sem estarem em aglomerações, sofrendo flagrante abuso de autoridade por parte de agentes policiais. Qualquer aluno de primeiro período do curso de Direito sabe que há direitos fundamentais garantidos pela Constituição de 1988, que só podem ser suprimidos em decretação de “Estado de sítio”, o que é feito exclusivamente pelo presidente da República, ouvidos os Conselhos da República e da Defesa, com aprovação do Congresso. O direito de ir e vir é um dessas garantias, que só podem ser suspensas na vigência do decreto de Estado de sítio, o que sabemos, não ocorreu.

            Ainda sobre medidas mais restritivas como o lockdown, os estudos têm mostrado que o mesmo não tem a eficácia desejada. O prefeito de Nova York afirmou em coletiva que mais de 60% de pacientes infectados pelo coronavírus e em estado grave na UTI, haviam sido contaminados em casa, mesmo em lockdown. Em outubro passado, própria OMS já declarou que o fechamento total não é recomendado, pois não salva vidas e acaba fazendo pobres. Esse equilíbrio entre medidas pró-saúde pública e manutenção das atividades econômicas com os devidos cuidados é que deveria ser a tônica do debate. E é bom lembrar que a pandemia tem feito os pobres ficarem mais pobres e os muito ricos cada vez mais ricos.  

            No fim de abril, por discordâncias com o presidente quanto às medidas que deveriam ser adotadas pelo governo na condução da crise, Mandetta pediu demissão, sendo substituído por Nelson Teich, que passou pouco tempo no cargo. Eduardo Pazuello assumiu como ministro interino, até ser efetivado no cargo, no mês de julho, sendo o atual ocupante da pasta.

            Como ainda não havia tempo para ter sido concebida uma vacina para imunizar as populações, houve busca de medicações e tratamentos que pudessem ajudar os pacientes infectados. Dentre esses medicamentos, tentou-se o tratamento com a hidroxicloroquina (medicamento utilizado há décadas para tratar malária e lúpus, e cujos efeitos colaterais e contraindicações são de conhecimento da comunidade médica). Houve até um estudo em pacientes de Manaus, em estado grave na UTI, mas que não obteve resultados esperados, muitos dos quais acabaram falecendo. Não é difícil de encontrar na internet vídeos de médicos que explicam a letalidade do tratamento com a hidroxicloroquina em virtude da alta dosagem aplicada nos pacientes estudados. Existem alguns estudos e médicos que defendem o uso do medicamento ainda nos primeiros sintomas, mas não no estado agravado, quando ele seria totalmente ineficaz.

            Outro medicamento que passou a ser utilizado ainda nos primeiros sintomas foi a Ivermectina, um antiparasitário que se mostrou bastante promissor na diminuição da carga viral da pessoa infectada pelo coronavírus. Estudos têm mostrado essa ação positiva e governos de vários países passaram a adotar a Ivermectina no tratamento precoce. Aliado ao vermífugo, nos primeiros sintomas, os médicos têm receitado Azitromicina, zinco e vitamina D. Sabe-se que o vírus tem ação mais letal sobre pessoas com o sistema imunológico fraco, e a vitamina D tem um papel preponderante na regulação de tal sistema.

            Entre os meses de junho e agosto, testes com vacinas contra a COVID-19 começaram a ser realizados. Como é sabido, o desenvolvimento de uma vacina é um processo lento e gradual, mas houve um esforço para que esse tempo fosse abreviado, dada a gravidade do momento. O governo do estado de São Paulo firmou contrato com a Sinovac, empresa chinesa, para produção de uma vacina em parceria com o Instituto Butantã. A Oxford desenvolveu uma vacina em parceria com o laboratório AstraZeneca. Após aprovação para uso emergencial das vacinas Sinovac-Butantã e Oxford-AstraZeneca-Fiocruz pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), elas começaram a ser aplicadas na população, ainda no mês de janeiro deste ano.

            Vale lembrar que foram enviados bilhões de reais para ajudar estados e municípios no combate à pandemia. Uma vez que o Brasil estava (ainda está) em estado de calamidade, não foram isolados os casos de desvios de recursos e superfaturamento na compra de equipamentos e materiais hospitalares, no escândalo que já está sendo apelidado de “Covidão”. A Polícia Federal e outros órgãos de controle, como tribunais de contas, têm agido para tentar coibir essas ações criminosas de quem não respeita o momento crítico por que passa o país e não tem o mínimo apreço pelas vidas perdidas.

            Ainda no ano passado, quando os números de infectados e mortos começaram a baixar, e começou-se uma lenta e gradual flexibilização nas medidas restritivas, ocorreram aglomerações durante os feriadões de setembro e outubro, além dos ajuntamentos promovidos por ocasião da campanha eleitoral. Somem-se a isso as festas clandestinas e as comemorações de fim de ano – muitas das quais foram oficialmente suspensas –, houve um novo crescimento observável ainda no mês de dezembro. O carnaval também contribuiu para esse aumento. Agora, no mês de março, prefeitos e governadores passaram a decretar medidas restritivas, inclusive com lockdown, que, como já foi dito, não tem eficácia comprovada, senão para deter por certo tempo. Vale dizer que vários hospitais de campanha Brasil afora foram desmontados, ainda no ano passado.  

            Entre o fim de 2020 e o início deste ano, surgiram variantes do coronavírus em algumas partes do mundo, incluindo o Brasil. A chamada variante brasileira do vírus chinês tem demonstrado grande potencial infeccioso, além de apresentar maior agressividade nos sintomas de quem é infectado. Estudos demonstram a eficácia de algumas vacinas até agora produzidas contra a nova variante brasileira. O país, hoje, é a quinta nação que mais vacina sua população, sendo quase oito milhões de pessoas vacinadas. Vale destacar que, em que pese a lenta imunização da população brasileira, o problema é verificado em outros países, quando apenas pouco mais de 291 milhões de doses foram aplicados ao redor do mundo. Só o Brasil tem uma população de mais de 210 milhões de habitantes. A explicação para a lenta imunização das pessoas ao redor do mundo se deve ao fato de que quase todos os países estão querendo a mesma coisa, e os insumos (“ingredientes” da vacina), na quase totalidade, são produzidos na China.

            Hoje, enquanto escrevo essas linhas, o Brasil chegou à marca 10.869.227 casos, 9.647.550 recuperados e 262.770 mortes, e aqui fica o sentimento de solidariedade aos familiares que perderam seus entes queridos. A letalidade da COVID-19, por esses números, é de 2,41%. Outro dado interessante é o das cidades que conseguiram relativo sucesso no combate à pandemia, chegando até a zerar o número de pacientes internados. Médicos infectologistas têm sido enfáticos com relação ao chamado tratamento precoce, isto é, nos primeiros sintomas, a pessoa deve procurar atendimento médico para, em caso de suspeita de infecção, começar a medicação para combater a doença no estado inicial, buscando evitar o agravamento do quadro. Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, conseguiu bons resultados assim, bem como Campina Grande, no agreste paraibano.

            Em suma, neste período de um ano da pandemia, com base no que vivenciamos, podemos afirmar que medidas médicas iniciais salvam vidas; que foi um erro a realização da campanha eleitoral com realização de eventos com aglomerações; que foi um equívoco a desativação de hospitais de campanha; que medidas que visem o fechamento total da economia não surtem efeito e só agravam o quadro; que houve ações imediatas do governo federal, quer fossem na economia, quer na saúde, com o aporte bilionário na ajuda a estados e municípios; e que vacinas com resultados promissores estão chegando para reforçar a ação de imunização das populações.

            O crescimento dos casos nos últimos meses realmente é preocupante, mas esperamos dias melhores e que nossos governantes pensem sempre na vida de seus governados. A você, ficam algumas dicas salutares: busque não acompanhar o “noticiário de velório”, que chega a ser um culto ao número de mortes atribuídas ao coronavírus; faça exercícios regularmente; tome vitaminas, principalmente vitamina C e a vitamina D; tome de 15 a 20 minutos de sol diariamente, preferivelmente pela manhã; busque evitar locais fechados ou com pouca ventilação; evite aglomerações; use máscaras; e respeite o distanciamento social. Essas recomendações dadas por médicos são facilmente encontradas na internet.

           Que Deus nos abençoe.

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