Amigos ‘jogam bola com caixão de homem’ que cuidava de campo de futebol, em Belo Horizonte; vídeo

“Ele viveu a vida toda ali, deixou um legado. Não tinha como [o velório] ser em outro lugar”.

Evelyn Santos é sobrinha de José Milton dos Santos, de 60 anos, que morreu na manhã da última sexta-feira (2). Amigos e parentes decidiram homenagear “Jesus”, como ele era conhecido, com uma despedida no Campo do Inconfidência, no bairro Alípio de Melo, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. Ele cuidou do lugar por mais de 40 anos.

“Meu tio veio de Sergipe e ele sempre foi do futebol. O campo ficava abandonado aqui no bairro. Ele tomou frente e resolveu cuidar para as crianças terem lugar para brincar, além dos amigos dele conseguirem jogar lá também”, afirmou Evelyn.

Referência na “Pelada dos Amigos”, uma das atividades que ocorriam semanalmente entre os moradores, Jesus morava no bairro São José, também na Região da Pampulha.

O colega de batente na administração do campo, Emerson Lúcio, conta que a história dele deveria ter sido conhecida ainda em vida.

“No dia do velório, a família chegou lá no campo e tivemos essa ideia, juntos. Ele viveu para o campo. E vimos que fazia sentido fazer o velório lá, onde ele viveu. Ele tinha um coração gigante”, disse Emerson.

Futebol e diversão

Para quem vive em bairros de periferia, pessoas que lutam para que haja acesso ao lazer e ao esporte são fundamentais para a comunidade.

“Ao menos duas vezes no ano ele juntava dinheiro do próprio bolso, somado a doações de outras pessoas, e fazia uma festa para as crianças do bairro. Tinha almoço de graça no campo, os meninos adoravam ele”, relembrou a sobrinha.

Jesus era organizado e “dava conta de tudo” relacionado ao espaço.

“Ele não só jogava, mas também administrava o campo, os horários, times… Era ele quem fazia a coordenação geral. Além disso, ele cuidava da limpeza, podava as árvores, fazia a capina”, contou o amigo.

Despedida

Jesus acabou morrendo em meio a estes cuidados. Enquanto fazia a poda, a escada em que estava foi atingida por um dos galhos. Ele não resistiu à queda e morreu no local. Jesus tinha completado 60 anos há pouco mais de um mês, no dia 30 de abril.

Família e amigos precisaram alugar um ônibus para levar as pessoas que queriam dar o último adeus ao homem que tanto se doou pela comunidade.

“Conseguimos alugar dois ônibus para levar pessoas para lá. Ele deixou um legado muito bonito. Foram muitas as crianças que estavam lá, chorando por ele. Vai fazer muita falta”, contou Evelyn.

g1
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