O corpo de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto em uma unidade do supermercado Carrefour, foi enterrado na manhã deste sábado (21) no Cemitério São João, na Zona Norte de Porto Alegre.
Muito abalada, a mulher de João Alberto, Milena Borges Alves pediu justiça. “Eu não tenho nada pra falar. Só quero justiça, quero que paguem”.
Uma das filhas dele, Taís Amaral Freitas, agradeceu o apoio que a família tem recebido. “A gente até se sente confortável por isso, mas mesmo assim, não traz a vida de volta. Não tem muito o que falar, depois de ver aquelas imagens, horrível”.
Amigo próximo do soldador, Noé Fernando Pithan também prestou uma última homenagem.
“Brincalhão, divertido, parceiro mesmo, até eu tenho camisa de clube que ele me deu, e gostava de andar de boné, camisa de clube. Não tem como aceitar uma coisa dessa, não tem como, ninguém vai te explicar isso daí”, desabafa.
Beto, como era conhecido, começou a ser velado às 8h e o enterro aconteceu às 12h.
Velório de João Alberto Freitas, morto em unidade do Carrefour em Porto Alegre — Foto: Tiago Guedes / RBS TV
João Alberto foi morto por dois seguranças do supermercado na noite de quinta-feira (19). Segundo a polícia, a vítima teria feito um gesto para uma funcionária do mercado, o que a fez chamar a segurança do local.
Beto foi acompanhado pelos dois homens ao estacionamento da unidade. De acordo com a polícia, ele teria dado um soco em um dos seguranças, quando começaram as agressões. A vítima foi agredida por cerca de 5 minutos pelos dois homens.
O Samu foi acionado, mas ele morreu no local. Os dois homens foram presos em flagrante e devem responder por homicídio triplamente qualificado.
Cemitério onde João Alberto foi velado em Porto Alegre — Foto: Tiago Guedes / RBS
João Alberto foi enterrado neste sábado em Porto Alegre — Foto: Jonas Campos / RBS TV
Manifestos em frente ao supermercado
Alvo de manifestantes na noite de sexta-feira (20), o Carrefour do Passo D’Areia tem marcas de destruição horas após o protesto que terminou em confronto com a polícia.
Logo ao amanhecer deste sábado, pedaços de concreto estavam espalhados pelo pátio, totens com marcas de incêndio e pichações contra os seguranças que provocaram a morte de João Alberto Freitas.
Cercas e portões foram arrancados. Próximo às escadas rolantes, vidraças foram quebradas, e lojas de empresas locatárias dos espaços também foram alvo dos manifestantes.
A calçada em frente à Avenida que dá acesso ao mercado também tem marcas de protesto. Frases como “racistas, assassinos e justiça por Beto” são expostas em cartazes de papelão ou grafitadas no piso e nas paredes do estabelecimento.
Pichações em frente ao mercado onde Beto foi morto em Porto Alegre — Foto: Reprodução / RBS
João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado e morto por dois homens brancos em Porto Alegre. — Foto: Reprodução/Redes sociais
‘Ele pediu: Milena, me ajuda’
Milena Borges Alves, de 43 anos, mulher de João Alberto disse que tentou ajudar o marido enquanto ele sofria as agressões, mas foi impedida pelos seguranças. A declaração foi dada em entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã de sexta-feira (20).
“Eu estava pagando no caixa, daí ele desceu na minha frente. Quando eu cheguei lá embaixo, ele já estava imobilizado. Ele pediu: ‘Milena, me ajuda’. Quando eu fui, os seguranças me empurraram”, afirmou ela.
João Alberto deixa quatro filhos – um do primeiro casamento e três do segundo. Com Milena, que vivia com ele há cerca de 9 anos, só tinha uma enteada.
A família mora a cerca de 600 metros do supermercado.
‘Agressão covarde’, diz pai
O pai de João Alberto Silveira de Freitas, João Batista Rodrigues Freitas contou ao G1 que esteve no local do crime logo após as agressões, avisado por familiares.
“Não sei como começou a confusão, o que está registrado é que muita gente registrou uma agressão covarde onde três pessoas começaram a bater no meu filho até levar à morte. A mulher dele estava junto, tentou tirar o cara que estava enforcando ele com o joelho contra o chão e o outro segurança empurrou”, aponta.
No estacionamento do mercado, o pai relata ter perguntado quem havia agredido João Alberto. “Me apontaram. Ele tava na viatura”, relata João, que não sabe identificar com qual dos seguranças falou nem quem apontou o veículo.
“Perguntei pro segurança que foi agredido: ‘foi roubo? Ele mexeu em alguma coisa?’. ‘Não’, ele disse. Só levou o soco. E aí o lugar que ele mostrou que levou o soco não tinha marca de anel. Ele não estava com o olho roxo”, disse João Batista.