DOIS ANOS DA PANDEMIA: UM PANORAMA ATÉ AQUI (Por: José Valdemir Alves)

(Por: José Valdemir Alves)

No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo estava sob a pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Já se passaram dois anos desde o início do contágio a nível global do citado patógeno. O que se sabe até agora sobre a origem do vírus, suas formas de contágio, suas variantes, as vacinas e outras questões afeitas ao assunto? Vamos vasculhar os fatos para tentar montar um panorama desses dois anos de pandemia.

O que foi difundido largamente na grande mídia é que o novo coronavírus pode ter tido origem no contato entre um ser humano e um animal infectado – provavelmente um morcego – na região de Wuhan, na China [1]. A cidade tem um mercado público onde diversos animais são comercializados, dentre eles, o mamífero voador. Sabe-se também que há um laboratório em Wuhan, onde vírus são estudados. A outra teoria sobre a origem da pandemia aponta para um vazamento do vírus estudado naquele laboratório [1].

Não é difícil imaginar as consequências, seja por meio de contaminação por meio do consumo de animal contaminado ou por vazamento de laboratório onde o vírus era estudado, visto que a China é o país mais populoso do mundo. Isso aconteceu ainda no mês de dezembro de 2019 – daí o nome “COVID-19”. O governo chinês não informou a OMS sobre o início até janeiro seguinte, mês em que os chineses que moram em várias partes do mundo começavam a se preparar para comemorar o ano novo lunar em seu país. Não, a festa não foi cancelada, a despeito de notícias de contaminação pelo novo coronavírus.

Logo, o vírus se espalhou pelo mundo ajudado pela migração de chineses que, após visitarem sua terra natal para a comemoração de novo ano lunar, regressavam aos lugares onde residiam em várias partes do mundo. Assim sendo, o primeiro epicentro de contaminação pelo vírus foi a região norte da Itália, não por acaso, região onde ficam fábricas de famosas marcas roupas bolsas e sapatos, reunindo mais de 300 mil chineses, que foram trabalhar nessas fábricas adquiridas por empresas chinesas [2].

O cenário foi propício para a propagação de um vírus com sintomas gripais: pleno inverno europeu e uma região com uma população nativa majoritariamente idosa. A contaminação se deu rapidamente e o número de óbitos também foi alto – até o dia 8 de março de 2020, haviam sido registrados 233 óbitos por COVID-19 [3]. Diante dessas características: vírus de sintoma gripal e facilidade de propagação em climas mais frios, não se esperava que houvesse uma propagação tão grande em países de clima tropical como o Brasil. Ledo engano.

O primeiro caso de coronavírus em solo brasileiro se deu em 26 de fevereiro de 2020, logo após o carnaval [4]. É interessante lembrar que, ainda em 4 de fevereiro, o governo federal decretou estado de emergência por causa das contaminações já relatadas em outras partes do mundo, sobretudo na Europa [5]. Pela medida, a realização do carnaval poderia não ter acontecido. Isso foi totalmente ignorado e a festividade popular foi realizada Brasil afora como se não estivesse acontecendo nada de estranho no mundo.

A OMS só veio declarar que o mundo estava passando por uma pandemia do novo coronavírus em 11 de março, cerca dois meses, pelo menos, após o início dos contágios em solo chinês [6]. A principal medida para tentar conter o contágio pelo vírus foram o isolamento social, mais especificamente o “lockdown” (fechamento de tudo), para que os sistemas de saúde pudessem se preparar para receber os pacientes infectados. O uso de máscaras também foi recomendado pelas autoridades sanitárias. E assim foi feito: escolas, lojas, shoppings, fábricas tiveram suas atividades suspensas até a segunda ordem. A apreensão tomou conta da população brasileira, que não vivenciava algo tão terrível desde a pandemia da Gripe Espanhola (1918), apesar de que a pandemia do H1N1 (2009) também certo impacto, mas não como a de COVID-19.

Além de buscar informações sobre as formas de contágio e os sintomas do novo coronavírus, os estudiosos da área da saúde também se aplicaram em estudar formas de tratamento. Visto que o vírus ataca principalmente o sistema respiratório, sobretudo os pulmões, a ventilação mecânica (em casos não tão graves) e o entubamento (em casos muito graves) de pacientes tornaram-se as principais forma de tratamento nos hospitais.

Medicamentos começaram a ser estudados para o tratamento dos sintomas. Pesquisas foram realizadas com um desses medicamentos nesse sentido. A mais famosa foi a realizada com pacientes em estado grave em Manaus (AM). O objetivo do estudo era buscar saber se havia eficácia da cloroquina em pacientes acometidos pelo novo coronavírus. Onze pacientes acabaram falecendo. Soube-se, contudo, que ministraram altas doses de cloroquina (mais forte do que a hidroxicloroquina) nos pacientes, sendo essa a principal causa da morte [7]. A cloroquina é um medicamento conhecido e usado há décadas para tratar doenças como malária e lúpus, sendo, portanto, conhecida a sua dosagem segura. Os médicos defensores do uso desse medicamento para tratamento da COVID-19 asseguram que o mesmo deve ser ministrado nos primeiros sintomas e não quando a doença se agrava.

Outro medicamento que esteve na zona de polêmica foi a Ivermectina, conhecido vermífugo (usado para tratar piolhos, por exemplo). Desde então, estudos foram feitos, ora comprovando [8] ora negando a eficácia da medicação [9]. Os médicos que recomendam o uso da Ivermectina ressaltam seu uso nos primeiros sintomas e não no agravamento dos sintomas.

Concomitante às medidas restritivas e estudos sobre o novo coronavírus e seus tratamentos, pesquisas para desenvolvimento de vacinas contra a doença foram realizadas. No início de dezembro de 2020, a primeira pessoa fora vacinada contra a COVID-19, na Inglaterra [10]. A vacinação no Brasil começou no dia 17 de janeiro de 2021, em São Paulo [11], após a obtenção do registro na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelo Butantã para aplicação da Coronovac – vacina feita em parceria do instituto brasileiro com a Sinovac, laboratório chinês. Atualmente, além da Corovac, são aplicadas as vacinas da Astrazeneca, Pfizer, Johnson & Johnson e Sputnik V.

As pessoas idosas e/ou com comorbidades (outras doenças) foram as primeiras a serem vacinadas. Depois seguiu-se a ordem cronológica inversa – dos mais idosos para os mais jovens. Hoje, a vacinação já alcança adolescentes e crianças. O número de internações e óbitos caiu consideravelmente após o início da vacinação, embora tenham acontecido alguns aumentos nos casos graves entre os meses de março e julho de 2021. Os estudiosos apontam que, apesar de não impedir a contaminação pelo novo coronavírus, as vacinas em uso foram preponderantes para o não agravamento dos casos, reduzindo internamentos e entubações de pacientes, impactando, assim, na redução no número de óbitos.

Como qualquer vírus, o novo coronavírus também pode sofrer mutações, dando origem a outras variantes, como foram os casos da Delta (mais letal) e da Ômicron (esta mais contagiosa, porém, menos letal). O surgimento dessas variantes pode estar ligado à aplicação das vacinas [12]. Com relação ainda aos imunizantes, ainda no estágio experimental, não se falava em aplicação de uma segunda dose. Hoje, há a aplicação da dose de reforço (terceira dose). Em Israel – um dos países mais vacinados do mundo –, a quarta dose tem sido aplicada para maior resistência à doença [13]. Ainda não se tem um dado definitivo sobre quantas doses são necessárias.

Inicialmente alarmantes, as previsões sobre o impacto da COVID-19 não se confirmaram. Um estudo do Emperial College falava em um milhão de mortos no Brasil, mesmo com as medidas sanitárias sendo adotadas, até agosto de 2020. Enquanto redijo este texto, o número de óbitos atribuídos aos efeitos do novo coronavírus está em 655 mil. E quando se fala em número de óbito “atribuídos” à COVID-19, busca-se deixar claro de que, uma vez que não houve autópsia em todos os casos, não se pode afirmar com certeza que todas essas mortes tenham mesmo sido causadas pelo vírus.

Outro dado que se obteve foi que os lockdowns não tiveram impacto significativo na diminuição no número de óbitos por coronavírus [14]. As máscaras de pano também não têm tanta eficácia na filtragem contra transmissão do coronavírus pelo ar [15]. Em várias partes do mundo, e já várias cidades brasileiras têm suspendido a obrigatoriedade de uso de máscaras em lugares abertos e fechados. Países europeus já estudam em considerar a contaminação pelo coronavírus como endemia (contágio interno) e não mais como pandemia (contágio geral) [16]. Assim sendo, as medidas como o lockdown, que mais atrapalharam do que ajudaram, serão reconsideradas.

Outro aspecto a ser considerado nesses dois anos de pandemia da COVID-19 é o perigo do controle social exercido sob o pretexto de cuidado com a saúde pública. Foi o que vimos em vários estados e cidades, em que governadores e prefeitos foram além de suas atribuições e decretaram até toque de recolher, ordenaram prisões de quem ousasse desobedecer às determinações pseudo-sanitárias, legando para as futuras gerações imagens em vídeos de trabalhadores tendo seus pontos fechados por autoridades e até sendo agredidos por estas. Vergonhoso e revoltante! Até a proibição de circulação ou entrada de pessoas não vacinadas em determinados espaços foi instituído por meio do famigerado passaporte (comprovante) vacinal, que tem sido revogado em várias partes do mundo, como na Inglaterra [17].

Esses governos contaram com um apoio de peso: a grande mídia, que se sentiu (e ainda se sente) a detentora da verdade, determinando o que é ou não é fake news, criando “agências de checagem de fatos” para tal fim, buscando desacreditar quem ouse contrariar o que é veiculado por elas. Muitas vezes, esses verificadores só autenticam as mentiras que seus patrocinadores divulgam.

Outro impacto negativo das medidas restritivas por causa da pandemia se deu na educação de jovens, adolescentes e crianças, que tiveram de acompanhar aulas online de casa – aqueles que tinham conexão à internet. Mesmo com o esforço de professores e de alunos nesse sentido, as consequências negativas dessa suspensão das aulas presenciais impactou profundamente na vida desses: professores aumentaram enormemente sua carga de trabalho e tiveram diversos problemas de ordem psicológica; por seu turno, os estudantes foram prejudicados por uma série de fatores, quer fosse a falta de adaptação ao novo modelo de estudo a distância, quer fosse por falta de condições para acompanhar as aulas online (falta de conexão, falta de aparelhos para tal fim etc.) [18].

As medidas restritivas tiveram um efeito muito mais maléfico, como já demonstrado acima, refletindo sobretudo na economia com a perda de empregos, disparada de inflação, alastramento da pobreza, não aprendizado pelos estudantes, entre outros problemas dramáticos. O auxílio emergencial oferecido pelo governo federal, por alguns governos estaduais e prefeituras também, foi preponderante para que o cenário não fosse ainda mais desolador. Hoje se sabe que dava para manter o básico funcionando na economia sem aumentar grandemente no número de mortes pelo vírus.

Após esses dois anos de vigência da pandemia, o que se espera é que o vírus encontre cada vez mais resistência nos organismos – seja por causa das vacinas, seja por causa da imunidade natural; que os governos não ousem mais tolher as liberdades fundamentais de seus cidadãos e que as pessoas tenham esperança de que isso vai passar, pois a esperança faz muito bem à imunidade.

 

 

________________

Links consultados:

 

[1] Laboratório X Natureza: novas investigações sobre a origem do coronavírus. Disponível em: https://saude.abril.com.br/coluna/virosfera/laboratorio-x-natureza-novas-investigacoes-sobre-a-origem-do-coronavirus/

[2] Roupas, bolsas e calçados “Made in Italy”, feitos por chineses. Disponível em: https://www.stylourbano.com.br/roupas-bolsas-e-calcados-made-in-italy-feitos-por-chineses/

[3] Norte da Itália: 16 milhões estão em quarentena pelo novo coronavírus. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2020-03/covid-19-italia-coloca-16-milhoes-de-pessoas-de-quarentena-no-norte

[4] Primeiro caso de Covid-19 no Brasil permanece sendo o de 26 de fevereiro. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2020/julho/primeiro-caso-de-covid-19-no-brasil-permanece-sendo-o-de-26-de-fevereiro

[5] Brasil decreta emergência sanitária por causa do novo coronavírus. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/02/04/brasil-decreta-emergencia-sanitaria-por-causa-do-novo-coronavirus.ghtml

[6] Organização Mundial de Saúde declara pandemia do novo Coronavírus. Disponível em: https://www.unasus.gov.br/noticia/organizacao-mundial-de-saude-declara-pandemia-de-coronavirus

[7] Estudo no AM aponta que alta dose de cloroquina em pacientes graves com coronavírus pode levar à morte. Disponível em: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/04/14/estudo-no-am-aponta-que-alta-dose-de-cloroquina-em-pacientes-graves-com-coronavirus-pode-levar-a-morte.ghtml

 

[8] Análise de estudos sobre ivermectina indica eficácia potencial contra Covid-19. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/analise-de-estudos-sobre-ivermectina-indica-eficacia-potencial-contra-covid-19/

 

[9] Ivermectina não foi eficaz em tratar Covid-19 em pacientes internados e com comorbidades, aponta estudo. Disponível em: https://g1.globo.com/saude/coronavirus/noticia/2022/02/19/ivermectina-nao-foi-eficaz-em-tratar-covid-19-em-pacientes-internados-e-com-comorbidades-aponta-estudo.ghtml

 

[10] Imunização no Reino Unido: Mulher de 90 anos é 1ª vacinada contra Covid-19. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/britanica-de-90-anos-e-primeira-a-receber-a-vacina-da-pfizer-fora-dos-testes/

 

[11] Há um ano, SP vacinava 1ª pessoa contra Covid no Brasil; veja o que mudou e projeções para o futuro. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/01/17/ha-um-ano-sp-vacinava-1a-pessoa-contra-covid-no-brasil-veja-o-que-mudou-e-projecoes-para-o-futuro.ghtml

 

[12] Vacinas podem levar ao surgimento de variantes do coronavírus? Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/07/15/vacinas-podem-levar-ao-surgimento-de-variantes-do-coronavirus

 

[13] Israel diz que 4ª dose da vacina contra Covid eleva resistência a doenças graves. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/israel-diz-que-4a-dose-da-vacina-contra-covid-eleva-resistencia-a-doencas-graves/

 

[14] Lockdown teve baixo impacto na redução de mortes, diz estudo. Disponível em: https://noticias.r7.com/internacional/lockdown-teve-baixo-impacto-na-reducao-de-mortes-diz-estudo-03022022

 

[15] Máscaras de pano têm pouca filtragem contra transmissão do coronavírus pelo ar, aponta estudo. Disponível em: https://g1.globo.com/saude/coronavirus/noticia/2022/03/01/mascaras-de-pano-tem-pouca-filtragem-contra-transmissao-do-coronavirus-pelo-ar-aponta-estudo.ghtml

 

[16] Países da Europa vão tratar covid como endemia; entenda o que muda. Disponível em: https://exame.com/ciencia/covid-endemia-o-que-muda/

 

[17] Inglaterra suspende mais restrições anti-Covid, incluindo uso de máscaras e passaporte sanitário. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/inglaterra-suspende-mais-restricoes-anti-covid-incluindo-uso-de-mascaras-passaporte-sanitario-25370136

 

[18] Divulgados dados sobre impacto da pandemia na educação. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/censo-escolar/divulgados-dados-sobre-impacto-da-pandemia-na-educacao

José Valdemir Alves

José Valdemir Alves

TREZE ALERTAS

(Por: José Valdemir Alves) O presente texto é para você, eleitor(a) que não gosta de Lula e de Bolsonaro, que