BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) — A autoridade de saúde da França determinou nesta sexta (19) que a vacina contra Covid-19 da AstraZeneca seja aplicada apenas em pessoas a partir de 55 anos, na terceira mudança de orientação desde que o imunizante foi aprovado no país, no começo de fevereiro.
Naquele momento, a regra estabelecida era a inversa: a vacina não deveria ser dada a idosos, sob o argumento de que faltavam dados sobre seu efeito a partir dos 56 anos de idade.
Depois de estatísticas do Reino Unido (que começou a usar o produto em dezembro) mostrarem que o imunizante protegia os idosos após a primeira dose, a França voltou atrás e liberou sua aplicação para todas as faixas etárias no começo deste mês.
Na semana passada, porém, ela suspendeu totalmente a administração da vacina, seguindo outros países europeus que pediam mais investigação sobre efeitos adversos.
A mais recente orientação foi dada depois que o regulador europeu (EMA) recomendou mais uma vez que o produto seja dado a todos os adultos a partir de 18 anos, nesta quinta (18). A agência afirmou que a vacina da AstraZeneca é “é segura e eficaz e seus benefícios superam os riscos”.
O governo francês, porém, preferiu evitar os riscos a colher os benefícios, pelo menos por enquanto.
A restrição ao uso da vacina em pessoas mais jovens acontece porque houve 23 relatos de um tipo raro de acidente vascular em pessoas imunizadas — cerca de 18 milhões de europeus tomaram ao menos uma dose da AstraZeneca até agora.
De acordo com a EMA, o problema ocorreu principalmente em mulheres com menos de 55 anos, mas não há evidência de que eles sejam causados pela vacina – mais estudos são necessários para descartar essa possibilidade.
Nenhum dos 23 casos pesquisados pelo regulador europeu aconteceu na França. Por outro lado, na maioria dos países do mundo a proporção de mais jovens entre os que morrem de Covid-19 têm crescido.
De acordo com dados da agência de saúde francesa compilados pela FranceInfo, 18% dos mortos desde 1º de março deste ano tinham menos de 59 anos, o que equivale a mais de 900 jovens vítimas da doença em menos de três semanas.
Por causa da aceleração do contágio do coronavírus na França, o governo acabou de decretar novas restrições à circulação em Paris e outras regiões do país.
No limite da idade permitida, o primeiro-ministro da França, Jean Castex, 55, que na quinta anunciou o lockdown, na sexta se fez fotografar nesta sexta recebendo a primeira dose da AstraZeneca.
A operação busca reverter uma queda de confiança no imunizante provocada pela suspensão – que ocorreu apesar das aprovações repetidas pela EMA e pela OMS.
A dúvida ainda persiste em alguns países, como Noruega, Suécia, Dinamarca e Finlândia, que decidiram manter a paralisação.
Na Itália, o governo fará uma campanha publicitária para incentivar a adoção, enquanto em Portugal o governo avisou que quem se recusar a tomar sua dose de AstraZeneca irá para o final da fila e, mesmo assim, não poderá escolher que produto tomar quando chegar a sua vez.
A discussão deve segurar ainda mais a aceleração da imunização na União Europeia, que continua bem atrás de outros países ricos. O Reino Unido já aplicou 40 doses por 100 pessoas e os Estados Unidos estão perto de 35/100, enquanto a UE, em média, deu apenas 12 doses por 100 habitantes.
No Brasil, onde o imunizante da AstraZeneca é o principal do programa de vacinação do governo federal, eventos adversos graves em pessoas vacinadas são 0,007% das doses administradas.