A aprovação do Orçamento de 2021 pelo Congresso Nacional criou muita incerteza no mercado financeiro e isso gerou um “prêmio fiscal”, ou seja, um alta nos juros futuros, avaliou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta terça-feira (6).
Ele participou de videoconferência promovida por uma instituição financeira.
“Provavelmente, a explicação para o Orçamento não foi boa o bastante e criou muita incerteza por algo que, na realidade, as pessoas esperavam ver de uma forma mais simples e clara. Eu acho que o ministro Paulo Guedes tem explicado o processo. A incerteza ao redor disso criou um prêmio fiscal. Precisamos explicar às pessoas o que vai ser feito, precisamos remover isso. E acho que é relativamente fácil fazer isso”, afirmou.
O Orçamento foi aprovado no fim de março e vem sendo chamado de “peça de ficção”. O texto, que ainda não foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, subestimou despesas obrigatórias para permitir uma “sobra” de recursos que foi usada para reforçar o valor destinado a emendas parlamentares.
De acordo com economistas, o texto do Orçamento, se mantido como aprovado pelo Congresso, coloca em risco a execução dos gastos básicos do governo até o fim do ano.
Na segunda-feira (5), o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse acreditar que não houve má-fé na aprovação do Orçamento 2021 pelo Congresso.
Ele também negou atritos com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e afirmou que o impasse ocorreu porque o texto foi negociado por um “time que nunca jogou junto”.
Calamidade
Sobre o pedido de setores da sociedade para que seja decretado estado de calamidade pública neste ano, a exemplo do que aconteceu em 2020, facilitando novas despesas públicas relacionadas com o combate ao coronavírus, o presidente do Banco Central afirmou que isso poderia ter um efeito negativo na economia brasileira.
“Se eu disser que estou entrando em estado de calamidade porque quero gastar R$ 25 bilhões a mais, eu posso garantir que os efeitos econômicos, nos mercados, vindos de distúrbios nas variáveis macroeconômicas, serão maiores do que o efeito econômico [positivo] de gastar mais”, disse.
Segundo o presidente do Banco Central, a segunda onda da pandemia do coronavírus, que tem gerado restrições de mobilidade em várias capitais do país, será sentida no nível de atividade dos meses de março e abril.
“Podemos ver isso nos níveis de confiança, caindo novamente. As pessoas estão tentando entender esse novo movimento da pandemia, o impacto em suas vidas, e o quanto isso vai demorar”, disse.
Economia reaberta
Considerando o cronograma atual de entrega de vacinas pelo Ministério da Saúde, Campos Neto estimou que a economia brasileira poderá ser “reaberta”, ou seja, contar com um nível de circulação mais próximo da normalidade, no segundo semestre deste ano.
“Isso nos diz, basicamente, que até julho teremos a maior parte das pessoas mais expostas, aquelas com mais risco, vacinadas. E se você olha para o efeito disso na curva, pode-se dizer que no segundo semestre poderemos reabrir a economia. Há muitas suposições aqui, as coisas podem ser diferentes”, afirmou.
Segundo ele, se o Brasil conseguir acelerar a vacinação para dois milhões de doses por dia, o efeito no nível de atividade será “enorme”. Para efeito de comparação, na segunda-feira (5) foram aplicadas no Brasil um total de 755.024 doses (548.306 primeiras doses e 206.718 segundas doses).