Se as eleições presidenciais fossem nesta semana, Jair Bolsonaro estaria em maus lençóis no segundo turno. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM) venceriam o ultradireitista com ao menos 8 pontos percentuais de diferença na disputa final eleitoral, mostra a pesquisa da consultoria Atlas. O levantamento da empresa, encerrado nesta quarta-feira, quando Lula fez, sem explicitá-lo, seu discurso de lançamento extraoficial de sua candidatura a 2022, mostra que o petista melhorou sua imagem e que Bolsonaro é afetado pela crescente rejeição à sua figura e ao Governo no auge da pandemia no país.
De acordo com a pesquisa Atlas, numa simulação de primeiro turno das presidenciais, Bolsonaro aparece com 32,7% das intenções de voto, contra 27,4% de Lula, formando o primeiro pelotão isolado. Na sequência aparecem o ex-ministro Sergio Moro (9,7%), Ciro Gomes (7,5%), Luiz Henrique Mandetta (4,3%), o governador paulista João Doria (4,3%) e o apresentador Luciano Huck (2,5%). No cenário sem Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad aparece em segundo lugar, com 15,4%.
Já no segundo turno mais provável pelos números atuais, Lula aparece com 44,9% contra 36,9% de Bolsonaro, 8 pontos de diferença. Na simulação de segundo turno com Ciro, o pedetista também bate Bolsonaro (44,7% contra 37,5%). O levantamento mostra uma boa performance de Mandetta em uma eventual disputa final, apesar dos números modestos do democrata no primeiro turno. O ex-ministro da Saúde bateria o antigo chefe por 46,6% contra 36,9%. Já o tucano Doria aparece em rigoroso em empate com o presidente no levantamento, que tem margem de erro de dois pontos percentuais.
“É o ponto de maior pessimismo com a evolução da covid-19 no Brasil desde que começou a pandemia e Bolsonaro sofre os reflexos”, afirma Andrei Roman, CEO da Atlas. “Com tantos candidatos vencendo Bolsonaro no segundo turno, diria que nunca foi mais provável do que neste momento que o presidente perdesse em 2022. Mas a vida dá voltas. O Brasil pode sair da pandemia neste ano. Em 2022, o Governo pode fazer assistência social e Bolsonaro ainda pode se recuperar”, pondera o cientista político.
Roman vê no favoritismo de Lula no momento menos a melhora de sua popularidade e mais um reflexo “da rejeição maior e muito mais intensa a Bolsonaro”. A pesquisa Atlas foi feita entre os dias 8 e 10 de março e captou apenas o começo do impacto do discurso de Lula nesta quarta-feira, quando ele se apresentou como antítese do presidente e criticou o Governo ponto a ponto, da gestão da pandemia à economia, com ampla repercussão midiática. “É imprevisível como isso vai evoluir”, segue ele.
Já os bons números de Mandetta são, na visão do CEO do Atlas, um reflexo da piora da avaliação de Bolsonaro como gestor da pandemia. “Na minha leitura, a intenção de voto de Mandetta é turbinada por uma pequena parcela que em janeiro ainda estava com o Bolsonaro e agora está migrando para um outro candidato, sendo que o destino mais natural deles é um candidato que faz crítica ao PT e tem um posicionamento um pouco menos antagônico em relação ao presidente”, explica.
Rejeição, Moro e Doria
O levantamento também mediu a imagem do presidente Bolsonaro e de seu Governo, além da percepção pública de vários líderes políticos e personalidades. Na pesquisa, 60% da população desaprova o atual ocupante do Planalto, contra 34,8% que o apoiam. Trata-se de uma queda de três pontos percentuais na aprovação em relação à pesquisa anterior, em 21 de janeiro. Apesar da redução, o patamar de apoio segue alto, puxado pelos homens (40% o aprovam), os evangélicos (53% o apoiam) e as regiões Norte e Centro-Oeste (41% e 42%, respectivamente, o apoiam), com índices de aprovação acima da média nacional.
Segundo o Atlas, é Luiz Henrique Mandetta é o político com a imagem mais positiva entre os líderes medidos pela pesquisa (40%), seguido por Bolsonaro, que tem 36% de imagem positiva, contra 60% de negativa. Lula, por sua vez, aparece com os mesmos 36% de índice positivo do presidente, alta de três pontos em relação a janeiro, provavelmente o começo do reflexo de sua reabilitação política. Seu nêmesis, o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro de Bolsonaro Sergio Moro, aparece com recorde de rejeição (63%), a maior desde que o Atlas começou a medir.
Já o governador tucano João Doria estabilizou sua imagem positiva (25%), mas ainda tem uma rejeição muito alta (60%). “Doria ainda enfrenta tensões internas no partido, com os acenos de Eduardo Leite como candidato”, lembra Andrei Roman, citando o governador do Rio Grande do Sul, que disputa com o homólogo paulista espaço no PSDB. Para o CEO do Atlas, Leite pode ser um fator surpresa nos próximos meses. “Não medimos o Leite e ele pode constituir o principal fator surpresa pela frente. Leite tem a vantagem de ser desconhecido para a maioria do público nacional, então poderia chegar como uma espécie de salvador se nenhum outro candidato de centro decolar. Ele é jovem, tem um discurso moderado, não surfou na onda bolsonarista e tem uma boa aprovação como governador.”
A pesquisa Atlas foi realizada com 3.721 entrevistas feitas por questionários aleatórios via internet. As respostas são calibradas por um algoritmo de acordo com as características da população brasileira.
Fonte: El País