ELEIÇÕES 2022: ALGUMAS ANÁLISES

(Por: José Valdemir Alves com contribuição de Cleber Tourinho)

O fim da noite de domingo(02) marcou também o fim do primeiro turno das Eleições Gerais de 2022. Vamos tratar especificamente dos resultados para o cargo de presidente da República, bem como dos números das pesquisas eleitorais que antecederam o pleito, e comparar com resultados anteriores.

Vejamos o quantitativo de votos válidos para presidente da República no primeiro turno, divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para os quatro primeiros colocados: Luís Inácio Lula da Silva (PT) obteve 57.259.405 (48,4%); Jair Messias Bolsonaro (PL), com 51.072.234 (43,2%); Simone Tebet (MDB) teve 4.915.420 (4,2%); e Ciro Gomes (PDT) conseguiu 3.599.285 (3%).

Analisemos as pesquisas eleitorais e o quanto se aproximaram dos resultados reais do primeiro turno. O IPEC (antigo IBOPE, ligado ao Grupo Globo) divulgou uma pesquisa no dia 1º de outubro, que dava 51% dos votos válidos (aqueles computados sem votos nulos e brancos) para Lula, contra 37% de Bolsonaro. Como vimos no parágrafo anterior, o instituto superestimou a votação de Lula em três pontos percentuais comparado ao resultado das urnas, enquanto subestimou a votação do atual presidente em mais de sete pontos.

Já o Datafolha (do Grupo Folha/UOL) também publicou uma pesquisa eleitoral à véspera da eleição, na qual o ex-presidente despontava com 50% dos votos válidos contra 36% do atual presidente. O cenário é bem parecido com o da pesquisa realizada pelo IPEC, como podemos ver: Lula com quase dois pontos percentuais para cima e Bolsonaro com sete pontos para baixo em relação às suas votações do primeiro turno.

Também divulgada no dia 1º, a pesquisa do instituto Quaest apontava 49% dos votos válidos para Lula e 38% para Bolsonaro. Essa pesquisa se aproximou bastante do resultado das urnas na votação para o petista, mas distanciou-se cinco pontos percentuais do resultado obtido pelo presidente.

No dia 1º de outubro também foi o Ipespe que divulgou sua pesquisa, que cravava 49% dos votos válidos para o ex-presidente, contra 35% do atual chefe do Executivo federal, sendo a que mais subestimou a votação obtida por Bolsonaro nas urnas, em oito pontos percentuais.

Essas eram as pesquisas com intenções de votos para presidente da República mais divulgadas na grande mídia. Desconsiderando os interesses por trás de quem as contratou e/ou de seus donos, observemos as semelhanças entre elas. O IPEC, o Datafolha, o Quaest e o Ipespe apresentaram números que davam a vitória de Lula no primeiro turno ou o aproximavam dela. Considerando o resultado divulgado pelo TSE, dentro da margem de erro, esses institutos acertaram.

A questão se complica quando analisamos os números destinados ao atual presidente. Os percentuais de Bolsonaro nessas pesquisas oscilam entre 35% a 38%. Nem na margem de erro, de dois ou três pontos percentuais para mais ou para menos, eles se aproximaram do que as urnas mostraram. Lembrando que esses institutos chegaram a dar mais de 10 pontos de vantagem para Lula, no primeiro turno.

Será que não estamos lidando aqui com uma tentativa de manipulação de votos – principalmente de indecisos – que tendem a votar em quem está na frente das pesquisas? Considerando os grupos midiáticos e econômicos a quem esses institutos servem, a questão é plenamente plausível.

O Paraná Pesquisas publicou seu levantamento no dia 30 de setembro. Nele, Lula tinha 47,1% dos votos válidos ante 41% de seu maior adversário. Essa pesquisa foi a que mais se aproximou da votação das urnas, inclusive, sendo considerada certeira (vide resultados no segundo parágrafo). Mesmo assim, ela não ganhou tanta repercussão quanto as dos institutos supracitados, de fato, passou ao largo de qualquer divulgação mais espraiada pela mainstream midiático. Arrisco dizer que – talvez! – sua própria divulgação nas redes sociais pode ter sido afetada pelos “robôs” que, automaticamente, filtram os conteúdos que não passam pelo crivo dos “checadores” de plantão.

Voltemos aos resultados das urnas, agora ponderando a respeito deles mais detalhadamente. Em 2018, mais de 14,5 milhões de votos foram destinados a Fernando Haddad (PT) contra 7,4 milhões de votos para Bolsonaro na região Nordeste – uma diferença de 7,1 milhões de votos pró-PT. Já neste ano, Lula obteve 21,6 milhões de votos ante 8,7 milhões de Bolsonaro – diferença de 12,9 milhões de votos para o petista.

Sobre a votação dos dois candidatos mais bem pontuados na região Nordeste, cabem algumas considerações. Primeiramente, foi a votação dessa região que deu a vantagem ao ex-presidente no primeiro turno. Outrossim, Bolsonaro, a despeito da grande diferença de votos a favor do petista, cresceu 1,3 milhão de votos aqui. O fato de governadores de ideologia esquerdista liderarem as disputas eleitorais na região foi decisivo nesse resultado. Não há dúvida disso.

Outro dado interessante é que a nossa região amarga os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, ao lado da região Norte. E mais um dado que chama a atenção: Lula venceu em nove dos dez estados com maior taxa de analfabetismo – e os nove são nordestinos. Isso diz muito sobre a imensa votação dada ao petista na região no primeiro turno. Lembrando, a região é dominada há anos pela esquerda. Estou sendo preconceituoso? De modo algum. E eu não sou nordestino de ocasião. Me orgulho de minha região o tempo todo. O nosso povo não é culpado, é vítima. Os dados aqui apresentados estão “linkados” abaixo para quem os quiser conferir.

Se, por um lado, Lula saiu na frente de Bolsonaro no primeiro turno, não há muito a se comemorar. E cabe aqui um parêntese. Não houve comemorações efusivas pela vitória lulista no primeiro turno, como acontecera entre o eleitorado bolsonarista, em 2018. Talvez a eleição de 99 deputados federais e 8 senadores do partido do presidente (PL) preocupe os petistas, além de dezenas de outros de diversas legendas que se postaram como alinhados com a agenda do atual governo (para não falar dos tantos e tantos parlamentares estaduais que, em suas bases, também prometeram colaborar com as propostas da direita e centro-direita). Fora os governadores eleitos/reeleitos em primeiro turno e mais bem colocados para o segundo turno também apoiarem o presidente. Ora, Bolsonaro terá palanque nos três maiores colégios eleitorais do país – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

E falando em Minas Gerais, é preciso lembrar que ele é considerado por muitos analistas como um “termômetro” para as eleições presidenciais, haja vista que sua composição sociogeográfica seria um “mix” do que é o cenário político do Brasil: abrange características ligadas ao sertão mais pobre (norte-nordeste do estado, fronteira com a Bahia), uma seção mais tradicionalmente “antipetista”, ligada ao agronegócio e interiorizada, nas imediações de estados como Goiás e Mato Grosso do Sul, além da porção mais liberal, urbana e industrializada, no diálogo com São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Pois bem, foi lá onde, para surpresa de muitos, presenciamos uma inesperada alavancada na votação pró-Lula, a despeito da reeleição de um governador liberal, Romeu Zema (NOVO), com 56,71% dos votos válidos. Assim, o estado é uma peça-chave há muito tempo para eleição de presidentes no Brasil, e por isso, caso deseje sucesso, Bolsonaro tem de focar nele e também no estado da Bahia, que deu larga vantagem para o petista.

Temos ainda as votações dos dois candidatos que não foram para o segundo turno: Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), que totalizaram mais de 8,5 milhões de votos. A candidata do MDB, aliás, acaba de declarar voto no líder petista, segundo ela, porque reconhece nele “[…] o seu compromisso com a democracia e a Constituição”, algo que alega não ver no concorrente direitista à reeleição. A meu ver, boa parte da votação de ambos irá para o atual chefe do Executivo nacional, mesmo sem o apoio formal a ele por ambos os candidatos derrotados. Aliás, não esperaria mesmo que eles empenhassem apoio a Bolsonaro.

Outro dado que merece ser citado é que a votação de Bolsonaro aumentou em quase 1,8 milhão desde 2018. Além disso, o primeiro colocado de 2022 teve 48,4% dos votos válidos contra 43,2%. Em 2018, o melhor colocado (Bolsonaro) teve 46,03% ante 29,28% para Haddad. Logo, a diferença desta vez é bem menor, e o fator da bancada eleita e dos governadores eleitos/reeleitos, bem como o apoio ao presidente por parte de candidatos bem colocados nas votações do primeiro turno pode ser decisivo para uma virada de votos a favor de Bolsonaro.

Mas isso só saberemos no dia 30 de outubro..

Links consultados

Mapa da apuração no Brasil. Disponível em: https://especiaisg1.globo/politica/eleicoes/2022/mapas/mapa-da-apuracao-no-brasil-presidente/1-turno/

Lula vence no Norte e Nordeste e Bolsonaro, no Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/10/veja-como-cada-regiao-estado-e-capital-votou-para-presidente.shtml

Pesquisa Ipec para presidente: Lula tem 51% dos votos válidos; Bolsonaro, 37%. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/pesquisa-ipec-para-presidente-lula-tem-51-dos-votos-validos-bolsonaro-37/

Datafolha, votos válidos: Lula 50%; Bolsonaro 36%. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/pesquisa-eleitoral/noticia/2022/10/01/datafolha-votos-validos-lula-50percent-bolsonaro-36percent.ghtml

Pesquisa Quaest para presidente: Lula tem 49% dos votos válidos; e Bolsonaro, 38%. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/pesquisa-quaest-para-presidente-lula-tem-49-dos-votos-validos-e-bolsonaro-38/

Ipespe/Abrapel: Lula tem 49% e chance de vencer no 1º turno; Bolsonaro, 35%. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/01/pesquisa-ipespe-presidente-1-de-outubro.htm?cmpid=copiaecola

Paraná Pesquisas foi o que mais se aproximou do resultado final. Disponível em: https://diariodopoder.com.br/eleicoes-2022/parana-pesquisas-foi-o-que-mais-se-aproximou-do-resultado-final

Eleições 2018: O peso de cada região do Brasil na votação para presidente. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-em-numeros/noticia/2018/10/08/eleicoes-2018-o-peso-de-cada-regiao-do-brasil-na-votacao-para-presidente.ghtml

Nordeste dá 1º lugar a Lula; votação de Bolsonaro na região cresce 1,3 mi. Disponível em:  https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/03/nordeste-da-1-lugar-a-lula-votacao-de-bolsonaro-na-regiao-cresce-13-mi.htm?cmpid=copiaecola

Norte e Nordeste concentram os municípios com menor IDH do país. Disponível em: https://cognatis.com.br/norte-e-nordeste-concentram-os-municipios-com-menor-idh-do-pais/

Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo; veja resultados. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/lula-venceu-em-9-dos-10-estados-com-maior-taxa-de-analfabetismo-veja-resultados/Simone Tebet apoia Lula: “Reconheço nele o seu compromisso com a democracia e a Constituição”. Disponível em: https://pt.org.br/simone-tebet-apoia-lula-reconheco-nele-o-seu-compromisso-com-a-democracia-e-a-constituicao/

 

José Valdemir Alves

José Valdemir Alves

TREZE ALERTAS

(Por: José Valdemir Alves) O presente texto é para você, eleitor(a) que não gosta de Lula e de Bolsonaro, que