O PATRIOTISMO DE OCASIÃO

(Por: José Valdemir Alves)

Desde o surgimento das primeiras cidades, por volta de 3.500 a. C. a 4.000 a.C., os povos buscam símbolos para os representar. Quando surgem os primeiros reinos e impérios, há uma preocupação especial para a distinção dessas monarquias, surgindo, dessa maneira, objetos com a função de bandeiras – mastros com esculturas ou outro enfeite com cores que identificavam aquele povo –, os vexilos.

Os primeiros vexiloides foram criados na China imperial, por volta de 1.500 a.C. Os mais conhecidos vexilos são aqueles feitos pelos romanos para representar seu império, que tinham um estandarte, geralmente em cor vermelha, com uma águia esculpida na parte de cima, cujo início do uso data de 107 a.C.

As Cruzadas – caravanas cristãs que tinham por objetivo retomar a cidade de Jerusalém das mãos dos muçulmanos para a Igreja Católica – popularizaram o uso de bandeiras com o objetivo de identificar os cristãos católicos, daí o uso de cruzes nos estandartes e o nome dessas missões religiosas.

A primeira bandeira, com as características modernas como conhecemos, foi criada durante a revolta holandesa contra o reinado espanhol, no século XVI – a Guerra dos Oitenta Anos. A “bandeira do príncipe” (“prinzevlag”, em holandês) tinha três faixas horizontais nas cores vermelho, branco e azul. Essa bandeira distintiva do povo holandês inspirou a composição de várias outras, inclusive a bandeira norte-americana [1].

A flâmula brasileira teve outros modelos que a antecederam: uma primeira pensada por D. João VI, enquanto ainda estava aqui com a Corte portuguesa, em 1820, similar à bandeira imperial brasileira; o pavilhão imperial idealizada por D. Pedro I e José Bonifácio, em 1822 – ambos desenhos do artista francês Jean-Baptiste Debret e tinham as cores verde e amarela representando as casas de Bragança (D. Pedro) e Habsburgo (D. Leopoldina), respectivamente.

Com o advento da República, em 1889, uma das primeiras medidas do governo republicano foi a substituição da bandeira imperial por uma que representasse o “novo Brasil”. O primeiro modelo era similar à bandeira americana, mas com faixas em verde e amarelo, as estrelas representando os estados e o céu em preto (simbolizando a etnia negra de nossa população), proposto pelo político José Lopes Trovão. Esta bandeira sofreu uma leve modificação na cor do céu, que ganhou a tonalidade azulada e uma estrela a mais – o município neutro do Rio de Janeiro, capital da República –, proposto pelo ministro Ruy Barbosa.

O modelo atual de nosso estandarte foi adotado ainda no ano de 1889, proposto pelos filósofos Teixeira Mendes e Miguel Lemos e pelo astrônomo Manuel Pereira. O desenho é semelhante ao da bandeira imperial, mas o escudo que representava a monarquia foi substituído por um disco azulado com estrelas das constelações visíveis em nosso céu – com destaque para o Cruzeiro do Sul – representando os estados brasileiros e uma faixa branca com o lema positivista “Ordem e progresso” escrito em letras verdes.

Cabe aqui ressaltar a ressignificação que quiseram dar às cores da bandeira recém-adotada: o verde simbolizando as nossas matas, e não a casa da família de D. Pedro; e o amarelo representando nossas riquezas, e não a casa da família de D. Leopoldina. Para mais informações, o link para um curto vídeo sobre a história de nossas bandeiras está disponível nos links consultados [2].

O breve apanhado histórico sobre a origem e a evolução das bandeiras é importante para entendermos a relevância desse objeto simbólico para um povo. Para nós, não é diferente. Dada a polarização por que passa a nação quando de uma eleição presidencial, em que temos dois candidatos mais bem colocados na opinião popular de dois espectros políticos opostos – direita e esquerda –, a bandeira do Brasil apareceu no centro de uma polêmica sobre a apropriação política desta.

Desde as manifestações de junho de 2013, as cores do Brasil ganharam as ruas como forma de demonstrar repúdio a tudo o que corrói a nossa nação: a corrupção, os privilégios, a alta carga tributária sem retorno social devido etc. Durante esses eventos, que culminaram com o fim da era petista no poder, em 2016, ressurge o pensamento direitista, calcado em valores conservadores e no amor à pátria, cujo sentimento passou a ser representado nas cores verde e amarela largamente usadas nos protestos direitistas. A camisa da seleção brasileira de futebol (a chamada “canarinho” por causa da cor amarela predominante) foi adotada como “uniforme da direita”.

No outro polo, encontramos a esquerda se manifestando em defesa do então governo petista e de seu líder supremo, Luís Inácio Lula da Silva, que cumpriu pena por crimes como corrupção passiva, após condenação por unanimidade em segunda instância [3]. A cor predominante nesses atos era a vermelha, a mesma que simboliza a ideologia comunista, na qual se baseia a esquerda mundial. Aliás, a bandeira do Partido dos Trabalhadores (PT) acabou sendo o símbolo máximo das passeatas esquerdistas, que contaram com o apoio incondicional de outras agremiações de mesmo espectro político-ideológico.

Nessas manifestações, o pavilhão brasileiro era publicamente rejeitado, literalmente pisado e incendiado. O sentimento patriótico – marca da direita – era apontado pela esquerda como sendo uma característica fascista, como um meio de desmerecer e desumanizar os brasileiros direitistas e suas pautas. Como se o fascismo não fosse irmão gêmeo do socialismo/comunismo, cujo objetivo é abarcar tudo no Estado. Como se ícones políticos como Getúlio Vargas – idolatrado pela esquerda brasileira – não tivesse agido de modo fascista em seu governo. Como se o lema “Deus, pátria e família” fosse algo ruim por ter sido apropriado por um grupo político que praticou coisas indesejáveis.

O fato é que não é de hoje que os brasileiros patriotas sentem orgulho de ostentar a flâmula que nos distingue dentre todos povos e nações do mundo. Um pavilhão que é um dos mais bonitos já desenhados, símbolo em cores vivas de um povo bravo e alegre que não desiste nunca. Uma vez que a esquerda percebeu que sua tentativa de ridicularizar e até criminalizar o uso de nosso pendão verde e amarelo pela direita não logrou êxito, ela partiu para a tática desesperada de acusar a direita de ter “sequestrado” o maior símbolo nacional.

Essa estratégia não é recente. Nas eleições de 2018, o PT tentou ocultar sua cor-símbolo, trocando o vermelho pelo verde e amarelo em sua propaganda política. Até a improvável participação em missa dos então candidatos a presidente e vice-presidente da república aconteceu naquele ano [4]. Parece que o “lema fascista” não era tão ruim assim. Não adiantou. O povo já estava desperto.

A mesma esquerda que hoje acusa a direita de se apropriar do estandarte nacional é aquela que canta o hino da Internacional Comunista em seus atos, que ostenta a cor vermelha em neles, que defende o comunismo em oposição ao patriotismo, que é intolerante com seus opositores. Em meio às imensas demonstrações de milhões de brasileiros em apoio ao atual presidente, no último dia 7 de setembro (no bicentenário da independência do Brasil), restou à oposição o desespero e a tentativa de vitimização.

Não, a bandeira do Brasil não é de um lado político nem tampouco de um líder político. Contudo, essa flâmula belissimamente projetada não representa quem defende o agigantamento do Estado sobre as liberdades individuais, ideologias autoritárias como o comunismo, o controle da imprensa e das redes sociais pelo Estado, líderes corruptos e autoritários, dentre outras pautas que corroem e destroem qualquer país. E muito menos o pavilhão verde e amarelo representa quem cospe nele, quem o pisoteia e quem o queima em praça pública em manifestação de desprezo.

A bandeira representa um povo ordeiro e batalhador, que não se curva às tentativas constantes de tentar submetê-lo à servidão estatal; que repudia todos aqueles que só pensam em chegar ao poder e sugar a população trabalhadora, que levanta cedo para prover o alimento em seu lar e pagar, mesmo sem querer, o luxo de muitos que atentam contra as liberdades desse mesmo povo; um povo que sonha e luta para que o “sol da liberdade em raios fúlgidos” brilhe finalmente nessa “pátria amada Brasil”.

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Links consultados:

[1] Como as pessoas se viravam antes das bandeiras? – https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/como-pessoas-se-viravam-antes-das-bandeiras.phtml

[2] História das bandeiras do Brasil – https://www.youtube.com/watch?v=kX3Ws1Qh3j0

[3] A prisão de Lula – https://noticias.r7.com/brasil/a-prisao-de-lula

[4] Em missa com Haddad, padre critica proposta de Bolsonaro de armar a população – https://oglobo.globo.com/politica/em-missa-com-haddad-padre-critica-proposta-de-bolsonaro-de-armar-populacao-23152074

José Valdemir Alves

José Valdemir Alves

TREZE ALERTAS

(Por: José Valdemir Alves) O presente texto é para você, eleitor(a) que não gosta de Lula e de Bolsonaro, que